A maneira como adquirimos qualidades espirituais difere da maneira como adquirimos coisas materiais. Quando um espelho reflete o sol, pode-se dizer que ele possui a imagem do sol, mas não da mesma forma que possui seus próprios átomos e moléculas. Os ensinamentos bahá’ís explicam que qualidades espirituais são dádivas de Deus que podemos receber voltando a Ele o espelho dos nossos corações. ‘Abdu’l-Bahá diz:
O mais importante é polir os espelhos dos corações a fim de que possam ser iluminados e receptivos à luz divina.…
O mais importante é polir os espelhos dos corações a fim de que possam ser iluminados e receptivos à luz divina. Um coração pode possuir a capacidade do espelho polido; outro pode estar coberto e obscurecido pelo pó e impurezas deste mundo. Embora o mesmo Sol esteja brilhando sobre ambos, no espelho polido, puro e santificado, pode-se contemplar o Sol em toda a sua plenitude, glória e poder, revelando sua majestade e fulgência; mas, no espelho empoeirado e obscurecido não há qualquer capacidade de reflexão, embora, no que se refere ao próprio Sol, ele brilha aí sem ser diminuído nem privado. Por isso, nosso dever consiste em procurar polir os espelhos dos nossos corações a fim de que sejam refletoras daquela luz e receptáculos das graças divinas que podem ser plenamente reveladas através deles.
A luz que se reflete num espelho é sua riqueza. Sem a luz, o espelho pouco vale. Qualidades espirituais, conhecimento e serviço à humanidade constituem a verdadeira riqueza. Posses materiais são necessárias e aceitáveis, mas somente se forem usadas para a promoção da virtude e felicidade humanas. Bahá’u’lláh diz:
O mérito do homem está em serviço e virtude e não na ostentação de afluência e riqueza.…
O mérito do homem está em serviço e virtude e não na ostentação de afluência e riqueza. Acautelai-vos para que vossas palavras sejam purificadas das vãs fantasias e dos desejos terrenos, e vossos atos estejam livres de astúcia e suspeita. Não dissipeis a riqueza de vossas vidas preciosas na busca de afeto mau e corrupto, nem deixeis vossos esforços serem despendidos com a promoção de vossos interesses pessoais.
Aspirar excelência em todas as coisas é algo que surge naturalmente no ser humano, a menos que o desejo seja deliberadamente suprimido. A força fundamental que direciona o indivíduo rumo a excelência é o desejo ardente de alcançar aquilo que Deus ordenou para cada alma humana. Shoghi Effendi afirma:
Não devem se contentar meramente com distinção e excelência relativas.…
Não devem se contentar meramente com distinção e excelência relativas. Preferivelmente devem fixar seu olhar em alturas mais nobres definindo os conselhos e exortações da Pena de Glória como sua meta suprema. Então, prontamente, dar-se-ão conta de quão numerosos são os estágios que ainda permanecem para serem atravessados e quão distante se encontra a meta desejada – uma meta que é nada menos que a exemplificação da moral e das virtudes celestiais.
Existem muitas expressões de amor – por exemplo, o amor à família, aos amigos, à comunidade e à pátria. Mas todas essas formas de amor são limitadas. O único amor ilimitado é o amor de Deus. Seu amor é todo-abrangente. Quando os corações são puros e capazes de refletir Seu amor, o resultado é um amor ilimitado e altruísta por toda a raça humana. ‘Abdu’l-Bahá afirma:
Este amor não é do corpo, mas inteiramente espiritual.…
Este amor não é do corpo, mas inteiramente espiritual. E aquelas almas cujo âmago está aceso pelo amor de Deus assemelham-se a raios de luz que se difundem, e fulguram qual estrelas de santidade num firmamento puro e cristalino; pois o amor real e verdadeiro é o amor a Deus, e este está santificado acima das noções e imaginações dos homens.
Ao trilharmos um caminho espiritual, crescemos em fé e certeza. Fé provém do conhecimento, não da ignorância. E, à medida que cria raízes, pede ação. Conhecer a verdade, mas agir de maneira contrária demonstra fraqueza de fé. Assim, fé é conhecimento consciente expressado em bons atos. ‘Abdu’l-Bahá diz:
Por mais agradável e aceitável que seja uma pessoa de atos retos no sagrado limiar de Deus, os atos devem proceder do conhecimento.…
Por mais agradável e aceitável que seja uma pessoa de atos retos no sagrado limiar de Deus, os atos devem proceder do conhecimento. Por mais incomparáveis e excelentes que sejam as obras de uma pessoa cega, ela própria está privada de vê-la. Quão arduamente certos animais trabalham para o homem, que cargas carregam para ele, quão grandemente contribuem para seu conforto e bem-estar; e ainda assim, por não terem consciência, não desfrutam recompensa alguma pelo seu sofrimento. As nuvens fazem chover sua graça, nutrindo plantas e flores, e concedendo verdor e encanto à planície e ao prado, à floresta e ao jardim; porém, inconscientes dos resultados e frutos daquilo que delas emana, não recebem louvor ou honra, nem recebem gratidão ou aprovação de qualquer pessoa. A lâmpada irradia luz, mas, por não ter consciência disso, ninguém lhe fica em dívida. Deixando isso de lado, uma pessoa de atos retos e de boa conduta certamente se volverá à luz, não importa onde a contemple. O importante é que fé abrange tanto conhecimento como boas obras.
Fé nos ajuda a ser firmes no amor a Deus e prontos a aceitar Sua vontade. No entanto, nosso conhecimento sobre a criação espiritual e material de Deus é limitado, e é impossível conhecermos o que acontecerá de um dia para o outro. Assim, é necessário esperança para podermos antecipar as emanações das graças de Deus, confiarmos na Sua misericórdia e sermos capazes de receber Suas bênçãos. ‘Abdu’l-Bahá assevera:
Se o coração foge das bênçãos que Deus oferece, como pode esperar ter felicidade?…
Se o coração foge das bênçãos que Deus oferece, como pode esperar ter felicidade? Se não põe sua esperança e confiança na Misericórdia de Deus, onde pode encontrar repouso? Ó, confiai em Deus!, pois Sua Generosidade é interminável, e em Suas Bênçãos, pois elas são magníficas. Ó, tende fé no Onipotente, pois Ele não falha e Sua Bondade permanece para sempre! Seu Sol irradia Luz ininterruptamente e as Nuvens de Sua Misericórdia estão cheias de Águas da Compaixão, com as quais banha os corações de todos que n’Ele confiam. Sua Brisa refrescante sempre transporta em suas asas a cura para as almas ressequidas dos homens!
Para se adquirir perfeições celestiais é necessário que se esteja disposto ao sacrifício. No entanto, o conceito de sacrifício pode ser facilmente mal entendido. Seu verdadeiro significado é renunciar algo de menor valor em prol de algo mais valioso. O ferro do ferreiro é cinzento, frio e duro. Ele deve renunciar essas propriedades para adquirir as qualidades do fogo – tornar-se rubro, quente e fluido. ‘Abdu’l-Bahá aconselha:
Por isso, aprendemos que a proximidade de Deus é possível através da devoção a Ele, através da entrada no Reino e do serviço à humanidade…
Por isso, aprendemos que a proximidade de Deus é possível através da devoção a Ele, através da entrada no Reino e do serviço à humanidade; é alcançado através da união com a humanidade e de amorosa bondade para com todos; depende da investigação da verdade, da aquisição de virtudes louváveis, do serviço à causa da paz universal e da purificação pessoal. Numa palavra, proximidade de Deus necessita de auto-sacrifício, renúncia e desprendimento de tudo por Ele.
O serviço está na essência da vida espiritual. Por intermédio do serviço, nosso anseio por crescimento espiritual e o desejo de contribuir para a transformação da sociedade se unem. No escritos bahá’ís, servir aos outros é elevado ao nível de adoração. ‘Abdu’l-Bahá afirma:
Sede pais amorosos para o órfão, e refúgio para o desamparado, e tesouro para o pobre, e cura para o enfermo.…
Sede pais amorosos para o órfão, e refúgio para o desamparado, e tesouro para o pobre, e cura para o enfermo. Sede os que auxiliam toda vítima de opressão e que protegem os desafortunados. Buscai, em todos os tempos, prestar algum serviço a todo membro do gênero humano. Não atenteis para a aversão e a rejeição, para o desdém, a hostilidade e a injustiça: agi do modo contrário. Sede sinceramente bondosos, não apenas na aparência. Que cada um dos bem-amados de Deus concentre a atenção nisto: ser a personificação da misericórdia do Senhor ao homem, ser a graça do Senhor. Que faça algum bem a toda pessoa com quem cruza no caminho e seja-lhe de algum benefício. Que aprimore o caráter de cada um e dê nova orientação às mentes dos homens.
Trilhar o caminho espiritual é uma aventura de alegria. Isso, a despeito das dificuldades e repetidas crises. Alegria é uma qualidade da alma humana e não uma mera resposta emocional a influências externas. Um estado de alegria pode incluir períodos de alegria e períodos de tristeza; pois alegria e sofrimento podem envolver um ao outro. ‘Abdu’l-Bahá disse o seguinte sobre o Seu tempo de prisão:
Eu próprio estive encarcerado quarenta anos – um ano apenas teria sido impossível suportar, pois ninguém sobreviveu naquela prisão mais do que isto! Mas – agradeço a Deus – durante todos esses quarenta anos, eu fui supremamente feliz!!…
Eu próprio estive encarcerado quarenta anos – um ano apenas teria sido impossível suportar, pois ninguém sobreviveu naquela prisão mais do que isto! Mas – agradeço a Deus – durante todos esses quarenta anos, eu fui supremamente feliz! Todos os dias, ao despertar, era como se estivesse ouvindo boas novas, e todas as noites tinha um infinito júbilo. A espiritualidade era o meu conforto e voltar-me para Deus era o meu maior contentamento. Se assim não tivesse sido, imaginais admissível que eu pudesse ter vivido durante aqueles quarenta anos na prisão?